quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Descautelosamente


"E esse imenso e desmedido amor
Vai além de 'seja o que for'"

A manhã tinha gosto de chá quando começa a esfriar, aquela textura boa de chocolate começando a derreter em banho maria. Tinha uma cor tão linda como a cor que ela via nele, uma cor de vermelho desbotante e laranja sol se pondo. Cor de vida.
Pouco importava se ela estava indo na direção contrária ao que haviam escrito, destino cada um faz o seu, ela que rabiscasse e ousasse querer desmanchar algumas linhas depois.
Não era só porque era verão, era porque ela estava a frente daquela juventude dos anos 30, ela não era dali, não sabia-se de onde, mas essa certeza tinha.
Haviam os planos dos pais, o casamento com aquele moço bonito que voltou da guerra quase rico suficiente para sustentar toda a família, mas havia algo mais?
Haveria a partir daquele momento uma história de uma noite que foi diferente de todas as que as amigas contariam, uma noite que os pais classificariam como sua ruína e que ela contaria aos filhos cheia de orgulho por ter sido se não a melhor pra sempre, apenas aquela que foi única.
O vento da manhã fazia com que ela quisesse tomar o caminho de volta, mas então não seria mais perfeito.
Ela caminhava para casa onde toda a população talvez já estivesse esperando por ela, onde ela entraria com o ar de felicidade tão forte que quase ninguém ousaria questionar.
Uma vez na vida ela desistiu de ter cautela, ela quis arriscar quebrar a cara por prazer ou por desejo insano de experimentar algo novo e uma vez na vida ela foi feliz de um jeito que até assustava, ela que quase nunca se assustava.
Quando a manhã chegou e ela soube que teria de ir embora abraçou com força o pedaço de sonho realizado, pegou a velha bicicleta que seria eternizada como relíquia de santuário e pedalou sorridente até o destino que cumpriria ou não, naquele instante não fazia mais diferença.

(Ao som de: Linha do Equador - Djavan)
Texto para a 55ª edição visual do Bloínquês

5 comentários:

  1. Fazer só o que esperam de nós não me um caminho que geralmente leve pra felicidade. Se sair pra vida montada numa bicicleta for o que alegrar o coração, acho que vale à pena correr certos riscos.

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  2. Vai ver você esteja realmente certa, irmã. Talvez seja hora de arriscar uma resposta mais afirmativa(seja para que lado for).

    um beijo!

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  3. gostei muito da descrição da manhã. beijo

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  4. Tay , amor, tem meme no meu blog pra você (:

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  5. Tanto tempo que não passava por aqui! Amei tudo...amo muito tudo o que a Tatá fala, escreve, até o que ela pensa é sempre tão parecido comigo...! Mas eu não tenho essa inspiração toda p dizer! Só posso dizer em poucas e simples palavras..te amo amiga...saudades!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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