Ana Terra tinha um orgulho original pela boneca de pano, ainda que as amigas teimassem que ela não tinha um coração. Ela podia encostar os ouvidos no peito e ouvir o som forte vindo lá de dentro, sempre.
Mas acontece que às vezes teimas mexem com a gente de um jeito ruim e a menina já cansada de toda aquela insistência pegou a tesoura sem pontas e abriu o peito de pano, era preciso alguma providência.
Diante dela o algodão branco apareceu e ali no cantinho esquerdo um botão vermelho amarrado por linha dourada pulou aos seus olhos, quase sangrando já.
Tamanha foi a tristeza por se perceber com o coração dela na mão que ela correu para a mãe, o pranto preso na garganta exposto nos olhos, implorando para que houvesse um modo de reaver tudo.
E a mãe fez um bom serviço, mas de noite a menina chorava de soluçar abraçada à boneca, ouvindo vez ou outra um sonzinho de lá de dentro.
Ela entendenria, só muitos anos depois, que a vida é assim. A gente por ouvir os outros e querer estar sempre certo das coisas abre o peito alheio sem dó por desejar enxergar e ter nas mãos aquilo que sempre esteve lá.
Quem foi que disse que pra ser real precisa ser palpável?
Curto, porém fantástico!
ResponderExcluirMe pergunto até hoje porque algumas pessoas teimam em querer atrapalhar a vida dos outros.
Depois que abrem os nossos peitos, nunca mais somos os mesmos!
Um beijo.