sábado, 19 de novembro de 2011

Das cores dos sonhos





Ana Terra era criança ainda quando desenhou o mundo. Seus sonhos eram aqueles, toda a cor que vinha na caixa de giz de cera enfeitava a paisagem.
Quando cresceu e foi ter com a realidade aquela conversa chata sobre a vida o que tinha de menina falou mais alto e ela se pegou chorando, chorando como se chora quando se tem sete anos. Tentando fugir da água do chuveiro que bate no machucado e faz arder.
Não, ela não tinha sonhos multicoloridos. O problema não era a cor dos sonhos, ela tinha problema de visão e sabia que elas jamais atingiriam o tom da sua imaginação.
O problema era que de repente parecia para a pequena Ana que os sonhos não eram feitos para o tamanho dela. Eram os sonhos de outros.
Eram outros sonhos.
E ela sentia tanta falta de quando ainda era criança suficiente para caber dentro daquele mundo colorido e lindo. Agora era grande e suas pontas furavam balões. Era angulosa. 
Era cheia de arestas cortantes.
Queria os sonhos de volta.
Queria a menina que sonhava, mesmo fugindo da água do chuveiro pra não arder o arranhão.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Do tempo do amor




Não faz mal se quando eu estiver insegura você me apertar a bochecha e acabar fazendo com que eu me sinta ainda mais infantil.
Não faz mal se quando eu não souber o que dizer, ou até quando souber, você completar por mim.
Não faz mal você me amar como se fosse vir a chuva e aquela árvore ainda fosse miúda pra tanta água bruta.
Faz só se você não vier, se não disser ou se não zelar.
Quer saber meu bem, faz só se você não quiser.
É sempre muito cedo quando a gente tem medo de amar.


De quando erramos o alvo



'Fui constrangido por tanto amor
Ele não se importou com meu estado envergonhado
Cristo simplesmente me amou'


Eu fico encabulada pensando, procurando um motivo que me dê um pouco de lógica para o fato de que quando as pessoas pecam, quando eu me afasto do centro da vontade de Deus o primeiro pensamento que me vem é 'o que as pessoas pensarão disso'?

Me lembro do missionário Breno Vieitas dizendo que etimologicamente falando, pecado é 'errar o alvo'. Tomamos o pecado de uma forma tão moral ultimamente, é quase como quebrar regras que a nossa sociedade pagã impõe. Pecar é cometer um crime contra Deus.
De forma alguma acredito que pecar é algo bom. Mas veja bem, pecar é 'errar o alvo'. Socialmente falando eu posso errar o alvo e continuar sendo aceita. O que não consigo entender é como pecar geralmente afeta mais minha vida moral que minha vida com Deus.
Então eu temo mais o que os homens pensam de mim do que o que meu Criador maravilhoso pensa?
Eu temo muito mais ser apontada na rua por essa ou aquela falha do que errar o alvo com Deus?
Peço perdão então Senhor. Peço perdão porque me deixo influenciar de tal forma por esse mundo que me distraio do meu alvo que é glorificá-lo, porque caio e ainda assim não volto os olhos ao céu porque estou focada aqui, tentando desviar a atenção dos outros.
Fecho meus olhos e peço que o Senhor me perdoe porque por medo de pecar com os outros eu encubro os meus pecados e me afasto mais de Ti, por medo de ser rejeitado, de ser 'constrangido' eu visto a minha máscara de perfeição, coloco minha fantasia de não-pecador e não me arrependo, não me lembro do sacrifício que foi feito por meus pecados, aqueles que a sociedade não pode saber porque me julgaria.
Me envergonho Pai porque sou tão baixa a ponto de me preocupar com tais mesquinharias quando Jesus foi parar naquela cruz, foi humilhado, sofreu tudo que sofreu sem merecer nada. E eu que mereceria castigo pior tenho tanto medo de mostrar e assumir que sou pecadora que prefiro me afastar. Prefiro tentar levar as pessoas ao seu altar fingindo uma vida de santidade, não usando o método eficaz e mostrando a cruz em que meu Salvador foi pregado.
Eu me iludo com as boas novas Pai. É tão maravilhoso me sentir próxima, mas permita Senhor que eu jamais me esqueça que sou falha. Que em pecado fui concebida. Que eu nunca vou ser digna do pó dos seus pés, mas que o Amor que o Senhor me tem é tremendo, mesmo sendo tão pouco merecedora.
E permita Pai que eu não tema o pensamento dos outros, que eu não julgue o meu pecado maior ou menor do que o de ninguém, que eu não julgue, simplesmente. E que quando os outros me julgarem eu pense que tenho um Mediador entre eu e o Senhor e tal Mediador falará por mim se meu arrependimento for sincero.Me ensina Senhor, me ensina que errar o alvo é pior do que quebrar convenções morais. Me ensina que o primeiro pensamento precisa estar em Ti, porque foi para te louvar e adorar que fui criada.Perdão Pai, perdão porque querendo ser aceita por uma sociedade religiosa eu me senti melhor que Jesus e por um momento talvez tenha achado que a cruz que me pregariam não tinha o meu tamanho. Ela era minha.
Teu amor me constrange Pai. Obrigada por me aceitar assim, sem máscaras, sem falsa santidade, só cheia de amor e de vontade de fazer a minha vida Sua.
"Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros, que a Deus"

(Atos 4:19)

(Canção citada: Carpinteiro - Aline Barros)

sábado, 5 de novembro de 2011

Daquela que é tanto


Look at the stars
Look how they shine for you

Carolina é essa menina que sempre foi mulher. A que me faz não saber falar ao telefone.
Talvez eu já tenha dito tanta coisa que hoje não saiba mais como tentar não ser piegas.
As estrelas realmente brilham para ela, e não fosse apenas isso, ela ainda tem um jeito maravilhoso de tornar as coisas melhores. Mesmo depois de tanto tempo ela consegue ter uma sintonia absurda e me adivinhar péssima no msn, ela consegue me pedir ajuda em uma coisa simples e fazer com que eu me sinta muito muito importante.
Eu fico boba e sem palavras para falar dela.
Acontece que Carol é aquela amiga que você sabe que estará em todos os momentos importantes da sua vida, é a que eu fico meses sem falar e então em um estalo lá estamos nós, tão diferentes de um ano atrás e tão próximas de novo. A que é feita de pólvora e delicadeza.
Não tem distância que faz com que eu me sinta longe dela. Longe das broncas e do modo como ela tinha de me desvendar, contrariando minha insistência em dizer que sempre estava tudo bem.
Sabe amiga, as mudanças da vida alteram muita coisa na gente e eu não quero construir um texto estilo Paulo Coelho. Mas ainda assim, eu sinto tanto reconhecimento de pupila. Tem como?
Eu te desejo o que você quiser e para ninguém dizer que é falta de criatividade, desejo também muito calor de abraço bom e boa companhia. Muito brilho pra esse olhar de sépia que eu adoro tanto e muitos passeios prazerosos.
Muita saúde porque eu me lembro o quanto você detesta estar doente.
Eu desejaria toda a felicidade do mundo se fosse possível te convencer que a gente pode ser muito feliz um dia...
Parece que foi ontem que te dei aquele abraço de despedida e eu sei que você pensará que eu sou terrivelmente dramática.
No dia mundial da Conspiração da Pólvora eu só queria te dizer que o cinco de novembro não tem tanta graça sem a correria de encher balões para te surpreender de mentirinha. Muita coisa por aqui não tem tanta graça, pode apostar.
Mas saber que você está aí, que você sempre estará aqui, independente do lugar, isso faz com que eu queira te abraçar bem apertado e te fazer ficar sem graça por dizer algo bem piegas, bem típico meu.
Não tendo essa chance, vou recorrer à memória boa que eu sempre soube que você tinha. Você sabe o quanto é especial não é mesmo?
Feliz aniversário amiga, madrinha, irmã.
Que sua alma encontre abrigo.
E que Deus te realize.

Parabéns Pessoíssima.
Você sabe.


(Ao som de: Yellow - Coldplay)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ciclos no escuro deserto do céu


Quero um machado pra quebrar o gelo
Quero acordar do sonho agora mesmo
Quero uma chance de tentar viver sem dor

Você continua aí empaturrando tudo e fazendo um drama me dizendo que eu sempre fujo. É a sua principal acusação. Bem, não que você tenha perguntado, mas talvez eu queira começar a te explicar porque eu realmente sempre fujo.
Acho que fugi desde o princípio, talvez você não notasse, mas primeiro era o mundo imaginário que eu criava para ver se conseguia sua atenção. Entramos em um impasse, o primeiro de alguns que virão, você me dava atenção, não posso mentir. O problema é que sua atenção era quando te convinha. Não me lembro de doer antes dos oito anos.
Lembra? Aquela menina de bochechas grandes que os adultos gostavam de apertar e que já tinha uma queda para a birra. Eu fugi um dia porque você não estava bem e eu não sabia o que fazer para você estar melhor. Era mais que desesperador não ter esse poder.
Que ingenuidade de menina a minha. Quem me dera ter o poder de não te fazer sentir dor ou sofrimento.
O tempo passou mais um pouco e eu percebi o primeiro problema real já quase adolescente. Às vezes você conseguia fazer com que eu me sentisse tão mal. E no outro dia você fazia com que eu me sentisse a pessoa mais linda e amada de todo o Planeta, eu era uma princesa.
Sabe, você era meu Sol. Eu era só um planeta vidrado na força que você tinha, o modo como todas as pessoas eram sempre alegres ao seu redor, o jeito como todos os meus amigos gostavam de você, o domínio que você exercia me fascinava tanto.
É cruel o Sol parar de brilhar, você não acha?
Quanto mais eu tentava ser uma boa pessoa, eu me esforçava para ser a melhor, para ter o destaque, as melhores notas, a popularidade, o carisma... Mais você procurava tantas coisas que eu não tinha...
Tentei tanto. Parece que não, eu sei. Tem coisas que não são de mim sabe? E você dizia que alguém era isso, ou aquela outra pessoa fazia aquilo. E eu me matava aos poucos porque eu me esforçava e não atingia, ficava sempre no quase. Eu era quase aquilo que você esperava.
Acredito que seja impossível para você entender tudo isso, você dirá que sou dramática e que você sempre fez o máximo por mim, veja bem, eu não estou dizendo o contrário.
Você não sabe o que é amar alguém e ter medo. Ter vontade de tocar o cabelo de alguém e aquela pessoa te sorrir e você acreditar que o mundo é perfeito e fazer isso novamente e o gesto ser repreendido.
Então eu vou te explicar porque eu fujo.
Fujo porque sou covarde e cansei de ver doer. Fujo porque eu não consigo mais conviver em cima da linha, não consigo mais gostar desse jogo de amo-desamo. Olha pra mim, enxerga o quanto eu sou sensível, não vê que eu me faço de forte pra você não chorar mais?
Eu te amo tanto, teria motivo para não amar? Você é parte de mim. Mas uma parte que me enlouquece e eu preciso ser adulta agora. Não existe mais espaço para aquela menina que acreditava ser uma personagem de livro.
Estou cansada de viver para tentar suprir suas expectativas.
Tanta gente me conhece e sabe o quanto eu valorizo quem eu amo, eu sou cheia de defeitos, alguns desses mesmos que você aponta com frequência. Mas quando eu quebro alguma coisa, eu tento consertar. Eu faço tanta força para carregar os sentimentos alheios sem derrubar nada, me ajuda.
Você diz que precisa de colo e eu queria ir até lá e te abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, que o choro que me acometeu hoje e que fez com que doesse tudo de um jeito que me assustou tanto, esse choro passou. Eu superei.
Mas eu não superei nada.
Tem tanta coisa presa aqui sabe, eu queria que você me amasse mais do que me ama. Eu queria que você nunca gritasse comigo e me acusasse de qualquer coisa. Eu queria que você fosse o meu Sol de novo, porque eu ainda não estou pronta para ser o Sol de alguém. 
Crescer já é tão complicado normalmente, por que as coisas precisam ser ainda piores?
Dizem que eu sou boba porque sonho em salvar o mundo. Quer saber, é uma hipérbole.
Se eu pudesse eu salvava só uma coisa, você.

(Ao som de: O Astronauta de Mármore - Nenhum de Nós)

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