segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Cor de primavera atemporal


Now it all seems so clear
There's nothing left to fear
So we made our way
By finding what was real

Era setembro outra vez, a voz infantil no banco de trás anunciava, não era aquele mês que viria a primavera?
E dentro dela que procurava constelações com o carro em movimento algo se fechou, encontro de duas mãos saudosas que se acham, fechamento assim, gostoso de se ver, melhor ainda de sentir.
Outra vez setembro, outra vez estrada, outra vez escuro, outra vez outra vez. Dessas coincidências que só se dá conta ao viver, mesmo dia, mesmo instante e um ano depois ela não queria mais que os meses corressem pra que chegasse logo alguma coisa. Um ano depois e já não havia espera da chance de estar perto, estar perto tomara rumos tão distintos, tão mais amplos e diversos e além do que ela poderia ter cogitado voltando para casa com a luz da lua cheia inundando tudo de lembranças naquele passado recente.
Onde estava aquela sensação que viera depois de pisar outra vez no chão trezentos e sessenta e seis dias atrás, aquele nó na garganta de que deixara um pedaço de si e agora como proceder?
Respirando fundo foi-se inundando da plenitude de se saber exatamente onde lhe cabe. Aquilo que tantas vezes nos últimos meses ela tentara se convencer, agora vinha assim, vozes dentro do carro e a verdade na cara, era alguma coisa toda especial dentro dela indicando que ela poderia estar em qualquer planeta do sistema solar que nada afetaria aquilo, não era causado por alguém nem por um lugar, era nascido dentro dela. Bem dentro. Olha que lindo!
Será que dias tinham mesmo esse poder de transformar tudo dentro da gente ou fora as batatas do Burger King que alteraram de vez o pensamento e mostrou o que já era meio evidente? Será que depois de um ano ela estava enfim voltando?
Um sorriso foi brotando porque ela não queria mais estar em outro setembro, em outro janeiro ou qualquer outra estação. Não havia mês passado que valesse a volta. Não havia cidade, fosse gigante ou minúscula, que a abrigasse mais. Não havia sorriso, por mais sincero que fosse, que a fizesse querer estar em outro lugar, em outra órbita, em outra estrada.
Aquele caminho era dela, estava indo para casa mas estivesse indo para a Lua sentiria o mesmo porque achara a rota que ia por si mesma, coisa mais bonita gente. 
Era isso então? Era isso de querer estar em algum lugar por querer e pronto? Pensou em Peter Pan que não sabia o que era ter um lar, penso na Doroth que desejava mais que tudo voltar ao seu, lembrou do Pequeno Príncipe que tinha um asteroide e uma rosa e perdeu todo o tempo na Terra preocupado com baobás anos luz distantes.
Seu lar estava seguro, quente e pulsante ali dentro, o lar que ela carregaria pra onde pisasse e que era ela.
Deu tempo de sentir uma saudade gostosa de carinhos de setembros passados e depois ela gargalhou e até enxergou uma estrelinha cadente metida a faceira que brilhava mesmo em movimento.
Só que dessa vez não pediu nada. Não pra si. Não pra outro alguém. Não pra nada.
Carecia pedir não, a gente tem exatamente tudo na medida que precisa pra aprender a ser gente, pra aprender a ser feliz, pra aprender a não querer mais.
Sou capaz de dizer que esse ano até a primavera virá mais colorida, tudo é cor quando a gente nota que voltou pra casa que é o próprio peito.


Ao som de September, Daughtry.

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